DOMINGO XXVI COMUM - ANO C

Publicada por Correia Duarte | Etiquetas: | Posted On at 08:47

26º DOMINGO COMUM – ANO C
25 de setembro de 2016



LEITURA I – Am 6,1a.4-7
Leitura da Profecia de Amós
Eis o que diz o Senhor omnipotente:
«Ai daqueles que vivem comodamente em Sião
e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria.
Deitados em leitos de marfim,
estendidos nos seus divãs,
comem os cordeiros do rebanho
e os vitelos do estábulo.
Improvisam ao som da lira
e cantam como David as suas próprias melodias.
Bebem o vinho em grandes taças
e perfumam-se com finos unguentos,
mas não os aflige a ruína de José.
Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados
e acabará esse bando de voluptuosos».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.
O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações.

LEITURA II – 1 Tim 6,11-16
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade,
a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão.
Combate o bom combate da fé,
conquista a vida eterna, para a qual foste chamado
e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé
perante numerosas testemunhas.
Ordeno-te na presença de Deus,
que dá a vida a todas as coisas,
e de Cristo Jesus,
que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos:
guarda este mandamento sem mancha
e acima de toda a censura,
até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
a qual manifestará a seu tempo
o venturoso e único soberano,
Rei dos reis e Senhor dos senhores,
o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível,
que nenhum homem viu nem pode ver.
A Ele a honra e o poder eterno. Amen.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO – Lc 16,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
disse Jesus aos fariseus:
«Havia um homem rico,
que se vestia de púrpura e linho fino
e se banqueteava esplendidamente todos os dias.
Um pobre, chamado Lázaro,
jazia junto do seu portão, coberto de chagas.
Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico,
mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
Ora sucedeu que o pobre morreu
e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão.
Morreu também o rico e foi sepultado.
Na mansão dos mortos, estando em tormentos,
levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado.
Então ergueu a voz e disse:
‘Pai Abraão, tem compaixão de mim.
Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo
e me refresque a língua,
porque estou atormentado nestas chamas’.
Abraão respondeu-lhe:
‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida
e Lázaro apenas os males.
Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado,
enquanto tu és atormentado.
Além disso, há entre nós e vós um grande abismo,
de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós,
ou daí para junto de nós,
não poderia fazê-lo’.
O rico insistiu:
‘Então peço-te, ó pai,
que mandes Lázaro à minha casa paterna
– pois tenho cinco irmãos –
para que os previna,
a fim de que não venham também para este lugar de tormento’.
Disse-lhe Abraão:
‘Eles têm Moisés e os Profetas.
Que os oiçam’.
Mas ele insistiu:
‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles,
arrepender-se-ão’.
Abraão respondeu-lhe:
‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas,
mesmo que alguém ressuscite dos mortos,
não se convencerão’.

Palavra da Salvação.
R E F L E X Ã O
A liturgia deste Domingo chama a nossa atenção para a necessidade e a obrigação de partilharmos os nossos bens com quem não possui o necessário para viver com um mínimo de dignidade.

1.    --- Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe política e dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos fracos e dos humildes.

2.    --- Enquanto isso, o profeta fala de pobres que  trabalham duramente, numa existência cheia de dores, trabalhos e misérias, para sustentarem a indolência e o luxo da classe dirigente. Deus pode aceitar que esta situação se prolongue indefinidamente?

3.    --- É claro que Deus não está disposto a pactuar com isto. Diz o profeta que a classe dominante da Samaria está a infringir gravemente os mandamentos da “aliança”, e que Deus não aceita ser cúmplice daqueles que mantêm um elevado nível de vida à custa do sangue e das lágrimas dos pobres.

4.    --- A segunda leitura não apresenta uma relação directa com o tema deste domingo… Traça sim o perfil do “homem de Deus”, que deve ser alguém que ama os irmãos, que é justo, e que guarda o mandamento recebido de Jesus, o “ único que é imortal e habita numa luz inacessível”.

5.    --- O Evangelho,  através da parábola do rico e do pobre Lázaro, apresenta-nos uma catequese sobre a posse dos bens. Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e banquetes, e um pobre que tem fome, vive na miséria e está doente.

6.    --- Do rico diz apenas que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava ou não os pobres. Apenas diz que ele esquecia e desprezava a pobreza e a doença de Lázaro, já que nem as migalhas da sua mesa partilhava com ele. O que acontece é que quando morreu, foi para um lugar de tormentos.

7.    --- Do pobre Lázaro só diz que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas. O que acontece é que, quando morreu, Lázaro foi “levado pelos anjos ao seio de Abraão”, ou seja, ao “banquete do Reino”, onde os eleitos de Deus se juntam para O verem e louvarem para sempre.

8.    --- O rico não foi condenado por ser rico, mas por ser egoísta e ter vivido de olhos fechados para as necessidades dos outros, neste caso, o pobre Lázaro. Lázaro não foi para a glória de Deus por ser pobre, mas por ser humilde e por viver a sua situação, sem ira, sem inveja, e sem revolta.

9.    --- Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, usando-os moderadamente, e partilhando-os com os irmãos que deles precisem. E lembra-nos ainda que temos que ter cuidado agora, enquanto vivemos aqui, porque depois é tarde demais e já não há nada a fazer. “Entre nós e vós há um abismo intransponível” - disse Abraão ao rico avarento.

10.  --- A solução está em darmos crédito àqueles que estão encarregados de nos falar em nome de Deus, sair do nosso egoísmo, e partilhar com os outros o que somos e o que temos. – “Têm lá os profetas! Que os ouçam”! – disse Abraão ao rico em tormentos, quando ele lhe pedia que enviasse à terra alguma alma que avisasse os seus irmãos.

11.  ---Na sociedade do nosso tempo, continua a haver “ricos” que se banqueteiam e se vestem luxuosamente, promovem festas caríssimas, procuram pratos esquisitos (têm por deus a barriga e o estômago, como disse S. Paulo) escolhem lugares exóticos para passar as férias, habitam palácios de milhões… (em alguns casos fruto de corrupção e da exploração dos outros), ao lado de gente que passa fome e morre de miséria e abandono. Basta pensarmos nos inúmeros “sem abrigo” que dormem ao ralento nas noites frias das cidades, nas enormes “favelas” brasileiras e venezuelanas…montadas ao lado de moradias, palácios e arranha-céus. Basta pensarmos na obesidade de inúmeras crianças portuguesas e europeias, e nos corpos esqueléticos das crianças do Sudão, da Etiópia ou da Somália. Basta pensarmos nos portugueses que recebem pensões milionárias, e nos que trabalharam a vida inteira, à chuva e ao sol, de noite e de dia, e agora recebem uma pensão de miséria que não lhes dá para pagar a comida, a renda de casa e os remédios. Não tem que haver igualdade geral, porque, além de impossível, seria injusta; mas devia e deve haver um mínimo de dignidade para todos.

12. ---Talvez me queiram lembrar que há pobres que, quanto mais lhes derem, mais gastam e mais estragam. É verdade. Com alguns assim acontece. Que o digam os senhores que recolhem o lixo todos os dias. Há pobres que alimentam os filhos com bolos e iogurtes, para não terem de lhes fazer uma sopa. E há pobres cujos filhos deixam roupas nas escolas e não as vão mais procurar. E há pessoas a mendigar esmola e a receber cabazes de alimentos, e a comer fora sempre que avezam algum dinheiro, o que não vejo fazer a outras pessoas e famílias que vivem desafogadas, à custa do seu trabalho e da sua poupança. Foi assim que os educaram. Foi assim que se aprenderam a viver, e não é fácil mudarmos os nossos hábitos. Aí está a responsabilidade dos pais.

13. ---Deve cada um de nós perguntar-se, todos os dias, se está a viver sobriamente, dentro do que é suficiente e normal; e deve cada um de nós estar atento, porque pode haver “Lazaros” na nossa rua, no nosso lugar de trabalho, à nossa porta, ou até dentro de nossa casa. Pode não lhes faltar a comida, a roupa, o tecto, o medicamento, mas pode faltar-lhe a palavra amiga, o olhar terno, o gesto solidário, o sorriso afável, a mão que aperta, o abraço que aconchega, ou também a fé que ilumina o caminho e dá sentido à vida.  


 Que o Espírito Santo nos ilumine. Que Nossa Senhora nos abençoe e nos ajude. 

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