História da Paróquia

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A PARÓQUIA

A paróquia de S. Miguel de Anreade é de instituição muito antiga: muito anterior à fundação da nacionalidade portuguesa.
A avaliar pelo padroeiro – S. Miguel Arcanjo – a primitiva igreja deve ser de origem visigótica (séc. VII). Efectivamente, os oragos S. Miguel, Santíssimo Salvador e Santa Maria estão ligados à instituição das paróquias mais antigas.

De todas as igrejas do concelho, esta é a que aparece mais cedo nos documentos, o que não quer dizer que tenha sido a primeira a ser instituída. A primeira referência escrita relativa à igreja é do século XI, mais propriamente do ano 1099. Por documento desse ano, o sacerdote Dídaco e outros herdeiros da igreja (nesses tempos as igrejas pertenciam aos donos dos terrenos onde foram construídas ou aos senhores que promoveram a sua construção), doaram a igreja aos monges beneditinos de Alpendurada.

No século XVI, por pedido do rei ao Santo Padre, a igreja passou de abadia para vigararia e, dos dízimos pagos pelos paroquianos, foi instituída uma “comenda” em favor da Ordem Militar de Cristo. Ao comendador da Ordem, que recebia os dízimos, cumpria o cuidado da cuidar da fábrica da capela-mor da igreja, o que lhe custava 12 mil réis anuais, pagar 40 mil réis de côngrua ao vigário da paróquia e 100 mil réis a dois outros sacerdotes que com ele prestavam os serviços pastorais na igreja de Anreade e na capela de S. Romão - que fez parte da paróquia de Anreade até meados do século XVI - com o encargo de celebrarem Missa diariamente na matriz.

Na igreja existiu, até 1834, uma “colegiada” de três sacerdotes (o reitor e dois beneficiados) que rezavam ou cantavam o Ofício Divino em comum. Ainda hoje existe a “Quinta dos Apréstimos”, um pouco abaixo da igreja, cujos rendimentos estavam ligados à sustentação desses dois sacerdotes da colegiada.
O Pe. João de Paiva, que respondeu às Inquirições de 1758, diz que o pároco de Anreade se chamava reitor, e que o rendimento da igreja andaria por 180 mil réis e mais 67 mil e seiscentos réis que o reitor recebia da paróquia anexa de S. Romão, cujo pároco era indicado e apresentado por si para ser confirmado pelo bispo de Lamego.
Nos primeiros tempos, o pároco de Anreade era escolhido e apresentado à confirmação do bispo de Lamego pelo Abade do Mosteiro de Alpendurada; em 1758, o Pe. João de Paiva dizia que, se o pároco anterior tivesse morrido em Março, Junho, Setembro ou Dezembro, o seu sucessor era indicado e apresentado pelo Convento de Alpendurada; se morresse nos outros meses, era aberto um concurso e o bispo de Lamego escolhia o concorrente que achasse mais aconselhável. 
Os livros de registo de Baptismo começaram a fazer-se em livro próprio em 1650, sendo então reitor da igreja o padre Belchior de Andrade. (1)

         A IGREJA

       Diz a tradição que a primitiva igreja, de construção românica ou mesmo de raiz visigótica, possivelmente, estava situada lá no alto, no lugar de S. Lourenço, junto a Anho Bom, o que bem se entende, sabendo-se que S. Romão e Anreade, até meados do século XVI, eram uma única paróquia. O documento acima referido (1099) situa de facto a igreja “entre Palma e Anreade, abaixo do castelo de Aregos”, o que condiz com a tradição local.        
Quando foi instituída a paróquia de S. Romão, logo se concluiu que a igreja se encontrava totalmente deslocada e longe do centro da freguesia. Houve então necessidade de construir a igreja actual, onde hoje a vemos. Muitas das pedras que fazem parte do actual edifício, sobretudo as da parede da cabeceira voltada a nascente, foram trazidas da antiga igreja, como se pode ver pelas próprias siglas que nelas existem em abundância. Se repararmos nas pedras do actual edifício, vemos granito de duas qualidades (cor e textura bem diferentes): as pedras mais amareladas e de textura mais homogénea e mais compacta vieram da igreja anterior.
O portal da igreja, muito interessante embora simples, é típico da época da renascença, de meados do século XVI.
A torre é um acrescento tardio, do princípio do século XX. Antes, existia um campanário em cima do telhado, do lado da torre, onde estavam os sinos, a que se tinha acesso por uma escadaria exterior, de pedra.
A igreja sofreu intervenções de recuperação e melhoramento em 1974, em 1992-94, e em 2005 com projecto e acompanhamento do arquitecto Jorge Topa.
Numa acta da Junta de Freguesia, de 9 de Agosto de 1931, incluía-se no seu orçamento uma verba de 1.500$00 com o objectivo seguinte:  “para despesa com a vedação do adro que foi muitos anos cemitério e se encontra completamente devassado pelo rompimento da estrada nacional”.
Tal vedação e arranjo urbanístico do adro da igreja só vieram porém a ser feitos em 1999, por iniciativa do pároco actual, com projecto do arquitecto Firmino Trigo, e com verbas concedidas pelo Estado.
Do espólio da igreja, fazem parte uma bela e valiosa Cruz Paroquial, em prata, do século XVII, uma Sagrada Custódia, em ouro e prata, oferecida por Francisco Teixeira Pinto e mulher, em 1666, no valor de quarenta e três mil réis, uma Pia Baptismal, em granito, em forma de hexágono, da época da construção da igreja actual, e um artístico lavabo, também em granito da região, de 1688. (1)



AS CAPELAS

Um códice de 1717 com o título “Capellas e Confrarias”, dava como existentes em Anreade as seguintes capelas: a de Santo Amaro, pública, no lugar de Anreade; a da Senhora da Luz, particular, em Fornelos; a da Senhora do Bom Sucessso, particular, no Outeiro; a da Senhora dos Remédios, particular, na Granja; e a de S. Pedro, da paróquia, implantada numa colina sobranceira ao Douro, onde mais tarde, em 1875, construíram o cemitério.
Para além destas, existem outras, mais recentes, inseridas em casas particulares, nomeadamente nas Casas de Pousada, da Torre, das Antas de Baixo e de Fundo de Aldeia, para além de mais duas, em abandono e em ruínas, uma em Palma, de Santa Ana,  e outra em Outeiro dos Altos, dedicada a S. António. (1)

OUTRAS ESTRUTURAS PAROQUIAIS

1.---A residência paroquial

Em séculos passados, a paróquia teve uma boa residência e um óptimo passal. As quintas da Lavra e dos Apréstimos faziam parte do passal da paróquia. Foram nacionalizadas pelo Estado pela lei de 28 de Agosto de 1868 e depois vendidas a particulares, em hasta pública.
A Casa de Residência do pároco, segundo o Pe. João de Paiva, no século XVIII, estaria situada “quase debaixo do chão, abaixo da igreja, sem condições”. No século XIX, foi construído um novo edifício, maior e mais condigno,  a uns metros de distância da igreja, do lado norte. Tal edifício, com o quintal anexo, foi roubado à Igreja pelo governo republicano, com a Lei da Separação de 20 de Abril de 1911. Na sequência de leilão público, casa e quintal foram parar a mãos particulares, nomeadamente a Luís Couto e Olinda de Almeida Matos, que os mais velhos recordam ainda.
Desde 1911 até 1950, o pároco residiram em casas particulares, suas ou arrendadas.
O actual edifício com o quintal anexo só foi adquirido pelo Pe. Artur Figueiredo, por volta de 1950, pelo preço de 70 contos, tendo-se gasto uns 40 contos nas obras de restauro e recuperação. (1)

2.---O centro paroquial

Nos finais da década de sessenta do século passado, na sequência de doação do espaço por parte de Manuel Pinto Monteiro, o grande impulsionador das termas de Aregos na década de 1930, senhor das Quintas da Alagoa, Lavra e Apréstimos, o Pe. Artur Figueiredo, apoiado pelos lavradores da freguesia, deu início à construção do imóvel, erguendo-lhe as paredes de alvenaria do rés-do-chão.
Deixando a paroquialidade em 1971, foi depois o Dr. José Gabriel e os membros da Comissão Fabriqueira, com o Pe. Adelino Teixeira a presidi-la, que, na década de 1980, ergueram o actual edifício, utilizando as paredes que já existiam. Para as despesas, contribuiram os paroquianos de Anreade, juntando o seu esforço a subsídios da Câmara Municipal e da Direcção Geral de Equipamentos Urbanos do Ministério das Obras Públicas. (1)
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1) Texto elaborado com base no livro “RESENDE E A SUA HISTÓRIA”, 2º volume, de Joaquim Correia Duarte, p. 49-65